segunda-feira, 8 de junho de 2015

Influência de variáveis do treinamento contra-resistência sobre a força muscular de idosos.


O benefício do treinamento de força depende da combinação ótima do número de repetições, séries, sobrecarga, sequência e intervalos entre as séries e exercícios. Ainda não é claro qual é a melhor combinação dessas variáveis para uma ótima relação dose-resposta (manipulação com efetividade e segurança) em idosos. Erroneamente, até pouco tempo atrás, o trabalho de força era considerado inadequado para idosos. Porém, o que se sabe é que o treinamento da força muscular é considerado componente fundamental da aptidão física relacionada à saúde e qualidade de vida de idosos, pois melhora a função e estrutura muscular, articular e óssea em qualquer idade. O fato é que quem treina força conserva mais sua capacidade de trabalho no decorrer do processo de envelhecimento. 


O que é força muscular?
A quantidade máxima de força que um músculo ou grupo muscular pode gerar em um padrão específico de movimento realizado em dada velocidade. O músculo alcança sua força máxima entre a 2ª e a 3ª décadas de vida e mostra diminuição lenta ou imperceptível até cerca de 50 anos de idade, quando começa a declinar aproximadamente 12% a 15% por década, com perdas mais rápidas acima dos 65 anos de idade.

A diminuição de força muscular traz consequências para a autonomia funcional de idosos?
Sim. Foi observado que níveis reduzidos de força muscular associam-se a uma menor velocidade de caminhada e inaptidão física o que aumenta o risco de quedas e fraturas. As perdas progressivas de força tendem a deixar os idosos incapacitados para realizarem tarefas simples do dia-a-dia, tornando-os dependentes, o que reduz sua qualidade de vida.

Do que dependem os benefícios do treinamento de força?
Da manipulação da intensidade, da frequência e do volume de treinamento. Tais fatores, ainda dependem da combinação ótima do número de repetições, séries, sobrecarga, sequencia e intervalos entre as séries e os exercícios e da velocidade de execução dos movimentos. No entanto, não é clara qual a melhor combinação dessas variáveis para uma ótima relação dose-resposta. Geralmente, a diretriz seguida, para adultos jovens saudáveis (não há recomendações precisas para idosos), é a sugerida pelo Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), que recomenda inicialmente de oito a 10 exercícios com três séries de oito a 12 repetições máximas (RM) numa frequência semanal de dois a três dias.

O que é importante considerar sobre a questão número de séries realizadas em programas de treinamento de força de idosos?
Não existe um consenso quanto ao número de séries para o desenvolvimento da força em idosos. Gomes e Pereira em seu estudo (Treinamento contra resistência: revisitando frequência semanal, número de séries, número de repetições, intervalo de recuperação e velocidade de execução. Rev Bras Fisiol Exerc. 2002;1:16-32) demonstraram não haver evidências suficientes para afirmar que múltiplas séries são melhores do que séries únicas em adultos jovens sendo isto também valido para idosos. Apesar de não haver evidências suficientes quanto ao número de séries para se desenvolver a força muscular em idosos, a maioria dos estudos aposta a utilização de três séries. O ganho médio de força em idosos quando da realização de três séries é de aproximadamente 40%; duas séries de 37,3%; e uma série 58%. No entanto, é preciso considerar que os estudos apresentam diferenças metodológicas importantes (intensidade do esforço, frequência semanal, grupamentos musculares envolvidos e duração do treinamento) sendo necessários mais estudos.

O que é importante considerar sobre a questão da frequência semanal em programas de treinamento de força de idosos?
Apesar de não existir consenso os estudos apontam frequência de três vezes por semana com ganho de força de aproximadamente 45%. No entanto, como há importantes diferenças metodológicas ainda são necessários mais estudos.

O que é importante considerar sobre a questão da intensidade da carga em programas de treinamento de força de idosos?
A intensidade do treinamento de força (1RM ou número de repetições máximas) é a variável que mais tem tomado espaço nos estudos dos especialistas. A comparação gira em torno de intensidades altas (80% de 1RM), com ganho médio de 55%, e baixas (40% e 65% de 1RM), com ganho médio de aproximadamente 40%, ou seja, programas de alta intensidade mostram mais vantagem em termos de ganho de força muscular.

Como o treinamento de força com cargas variáveis poderia contribuir para o ganho de força muscular?
Não há muitos estudos que discutam o papel da variação das cargas (50%, 65% e 80% de 1RM) no aumento da força muscular em curto e médio prazo no decorrer de um programa de treinamento de força. Este ganho pode estar associado com adaptações coordenativas e o componente neural, ou seja, o padrão de recrutamento das unidades motoras.

O que explicaria o ganho mais expressivo de força muscular em treinamentos de alta intensidade realizados por idosos?
Essas evidências podem ser explicadas pelo fato dos principais fatores que contribuem para o incremento da força em função do treinamento são as adaptações neurais e hipertróficas (mais tardias). Num primeiro momento (início do treinamento), o desenvolvimento neural tende a ser a via preferencial para melhorar a capacidade de mobilizar cargas, pois um nível maior de força pode ser gerado aumentando a frequência e o recrutamento de unidades motoras dos grupos musculares envolvidos no movimento. Além disso, o recrutamento das unidades motoras através da alta intensidade do trabalho neural pode habilitar fibras musculares subutilizadas.

O que é importante considerar sobre a questão do intervalo entre as séries e os exercícios em programas de treinamento de força de idosos?
Essa variável tem recebido pouca atenção por parte dos pesquisadores da área, apesar da sua grande importância. Em geral, os intervalos variam de um a três minutos. No caso de idosos, o tempo médio de recuperação entre as séries e os exercícios é de dois minutos.

O que é importante considerar sobre a ordem dos exercícios em programas de treinamento de força de idosos?
De todas as variáveis envolvidas no treinamento de força essa é que recebe menor atenção. Isso torna inviável maiores inferências ou comentários sobre a influência dessa variável na relação dose-resposta no treinamento de força.

São pontos importantes do treinamento de força para idosos:
-Há incerteza com relação à melhor combinação das variáveis (intensidade da carga, número de repetições, número de séries, intervalo entre as séries, ordem dos exercícios e frequência semanal) para uma ótima relação dose-resposta no treinamento de força para idosos;
-Diferentes combinações das variáveis do treinamento de força podem ser igualmente eficientes no desenvolvimento da força de idosos;
-As diretrizes utilizadas para o treinamento de força em idosos vêm sendo pautada nas recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte para o treinamento de adultos jovens, independentemente das diferenças biológicas que podem influenciar a treinabilidade dos sujeitos em idade avançada;
-A manipulação da intensidade do treinamento (programas com carga variada ou efeitos decorrentes de períodos curtos e longos de treinamento) e a magnitude dos ganhos de força atribuídos às adaptações coordenativas e hipertróficas, em idosos, ainda levantam dúvidas que merecem investigações futuras;
-A ordem dos exercícios no treinamento de força não tem sido investigada. Isso é uma lacuna a ser explorada já que o Colégio Americano de Medicina do Esporte recomenda que os exercícios envolvendo grandes grupamentos musculares sejam realizados antes daqueles que solicitam grupamentos menores. Por outro lado, já foi demonstrado que nem sempre isso é o mais adequado, dependendo do objetivo do treinamento e nível de condicionamento do praticante;
-Para idosos, quanto ao treinamento de força, é preciso se pautar na efetividade e segurança do mesmo.

Fonte: Nádia Lima da Silva e Paulo de Tarso Veras Farinatti. Influência de variáveis do treinamento contra-resistência sobre a força muscular de idosos: uma revisão sistemática com ênfase nas relações dose-resposta. Rev Bras Med Esporte, Vol. 13, Nº 1 – Jan/Fev, 2007.

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