sexta-feira, 15 de maio de 2015

SARCOPENIA E ENVELHECIMENTO


A sarcopenia associada ao envelhecimento é um processo lento, progressivo e aparentemente inevitável, até mesmo naqueles indivíduos que praticam exercícios físicos regularmente. Suas consequências afetam diretamente a funcionalidade e qualidade de vida de muitos idosos, com sérias repercussões sobre os aspectos sociais, econômicos e de saúde. Existem diversos fatores etiológicos envolvidos na patogênese da sarcopenia. Entretanto, ainda não foi estabelecida uma clara relação causal. É fundamental o desenvolvimento de estudos longitudinais para melhor compreensão dos aspectos fisiopatológicos da sarcopenia, bem como o aperfeiçoamento de métodos de mensuração da massa muscular para o diagnóstico precoce e avaliação de medidas terapêuticas efetivas para o ganho de massa muscular em idosos. Dessa forma, apresentamos abaixo algumas questões importantes relativas a esse assunto.



Como decorre o processo de sarcopenia durante o envelhecimento?

Da interação complexa de distúrbios da inervação neuromuscular, alterações hormonais e da dieta e aumento de mediadores inflamatórios. Além disso, a perda de massa e força musculares é responsável pela redução de mobilidade e aumento da incapacidade funcional e dependência. Adicionalmente, foi demonstrada maior prevalência de incapacidade e dependência funcional em idosos, particularmente do gênero feminino. Estes aspectos estão associados à redução da massa muscular decorrente do envelhecimento, mesmo em idosos saudáveis. Rosenberg (1989) foi o pioneiro a utilizar o termo sarcopenia para descrever a perda muscular esquelética. Como esta redução faz parte do envelhecimento fisiológico, alguns autores tendem a definir sarcopenia como doença somente se estiver associada a alguma limitação funcional. Estima-se que, a partir dos 40 anos, ocorra perda de cerca de 5% de massa muscular por década, com declínio mais rápido após os 65 anos, particularmente nos membros inferiores.

Qual é a importância em se estudar a sarcopenia?

A sarcopenia é uma das variáveis utilizadas para definição da síndrome de fragilidade, altamente prevalente em idosos, conferindo maior risco de quedas, fraturas, incapacidade, dependência, hospitalização recorrente e mortalidade.

O que é a da síndrome de fragilidade em idosos?

Representa uma vulnerabilidade fisiológica relacionada à idade, resultado da deterioração da homeostase biológica e da redução da capacidade do organismo de se adaptar às novas situações de estresse. Outros indicadores da síndrome incluem perda de peso recente (massa magra); fadiga; quedas frequentes; fraqueza muscular; diminuição da velocidade da caminhada e do nível de atividade física.

Quais são alterações na composição corporal associadas ao envelhecimento?

Redução do conteúdo de água, aumento de gordura corporal e declínio da massa muscular esquelética.

Quais são métodos de avaliação da composição corporal?

Bioimpedância, ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e densitometria com dupla emissão de raios X (DEXA).

Como é calculada a massa muscular apendicular de um sujeito?

É calculada pela razão da quantidade de massa magra em braços e pernas (gramas) e a altura do indivíduo ao quadrado (metros), ou seja, [MMA (g/m2) = massa magra dos braços (g) + massa magra das pernas (g)/altura2 (m)].

Qual é a finalidade do exame de DEXA?

Avaliação de composição corporal, pois permite o estudo segmentar das principais regiões anatômicas: cabeça, tronco e membros (gramas), % de gordura e massa magra (gramas), bem como a classificação de tipos de obesidade ginóide (♀ - mulheres) e andróide (♂ - homens), o que poder servir de ferramenta adicional na avaliação de risco cardiovascular. Além disso, atualmente, o meio mais utilizado para o diagnóstico de sarcopenia é a realização da densitometria óssea de corpo total para a avaliação da composição corporal (massa óssea, magra e adiposa totais). As vantagens do DEXA são a praticidade, a aquisição de medidas objetivas em tempo curto de exame (20 a 30 minutos), o custo relativamente baixo quando comparada a outras metodologias, pouca radiação ionizante (25% da radiografia simples de tórax) e boa reprodutibilidade.

O que podemos falar com relação à perda de massa muscular relacionada à idade em e ?

Homens têm maior massa muscular, mas também apresentam maior perda com o avançar da idade. Com o envelhecimento, os homens têm maior perda muscular devido ao declínio do hormônio do crescimento (GH), fator de crescimento relacionado à insulina (IGF-1) e testosterona. Apesar da perda muscular ser maior em ♂, é importante ressaltar a importância da sarcopenia em ♀ idosas, uma vez que possuem maior expectativa de vida e alta prevalência de limitações funcionais.




São fatores associados com a gênese da sarcopenia?

Hormonais, nutricionais, metabólicos, imunológicos, neuromusculares (↓ de unidades motoras e fibras musculares e atrofia muscular) e inatividade física.

Comparação entre músculo de idoso (acima) com de um jovem(abaixo)

O que podemos falar sobre a perda de fibras musculares, inervação e sarcopenia?

As fibras do tipo I (aeróbias, de contração lenta) parecem ser resistentes à atrofia associada ao envelhecimento, até os 70 anos de idade, enquanto a área relativa das fibras tipo II (anaeróbias, de contração rápida) declina de 20 a 50%. Foi observada redução de 50% do número de fibras musculares até nona década de vida, quando comparados aos jovens de 20 anos de idade. Além disso, achados eletrofisiológicos da redução das unidades motoras da musculatura proximal e distal de membros inferiores e superiores corroboram a hipótese de participação da degeneração neuronal na gênese da sarcopenia.


O que podemos falar sobre os estímulos anabólicos e a sarcopenia?

Com o envelhecimento, ocorre ↓ nas substâncias anabólicas no músculo esquelético. Por exemplo, o nível de testosterona e androgênios declina com a idade, principalmente após os 80 anos. Existe relação entre queda da testosterona e declínio da massa e força muscular e estado funcional em idosos. No tecido muscular, os androgênios estimulam a síntese proteica e o recrutamento das células satélite às fibras musculares em atrofia. O declínio de estrogênios em mulheres associados à menopausa é bem conhecido e, possivelmente, os esteroides sexuais femininos exercem efeitos anabólicos no músculo pela conversão em testosterona. A redução de GH e IGF-1 está implicada no menor estímulo anabólico ao tecido muscular esquelético.

O que podemos falar sobre o metabolismo basal, a nutrição e a sarcopenia?

Com o avançar da idade, é comum ocorrer declínio de mais de 15% do gasto metabólico basal, que acontece devido à redução de tecido magro, principalmente de células musculares metabolicamente ativas. A ↓ da ingestão alimentar (“anorexia do envelhecimento”) é fator importante no desenvolvimento e progressão da sarcopenia. Múltiplos mecanismos levam à ingestão alimentar reduzida no idoso, tais como perda de apetite, fatores psicossociais e econômicos, redução do paladar e olfato, saúde oral prejudicada e saciedade precoce. A ingestão reduzida de proteínas ocasiona ↓ da massa e força musculares, em mulheres na pós-menopausa, e dessa forma discute-se a necessidade de suplementação nessa população.

O que podemos falar sobre os estímulos catabólicos e a sarcopenia?

O aumento de estímulos catabólicos em idosos tem sido aventado como outra causa provável da ↓ da massa muscular. Foi observado ↑ da produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, TNF-α e IL-1) em idosos, que podem estimular a perda de aminoácidos e incrementar a quebra de proteínas das fibras musculares.

O que podemos falar sobre a inatividade física, a limitação funcional e a sarcopenia?

A inatividade física é um fator que contribui para a sarcopenia relacionada ao envelhecimento. Homens e mulheres idosos com menores níveis de atividade física têm também menor massa muscular e maior prevalência de incapacidade física. A prática regular de exercícios, desde jovem, retarda a perda muscular do idoso. E a intervenção mais eficaz para prevenção e recuperação da perda muscular são os exercícios de força muscular.

Quais são as opções terapêuticas para o tratamento da sarcopenia?

Reposição de esteróides sexuais e GH, prática de exercício físico e utilização de suplementos nutricionais.

O que podemos falar sobre a reposição de esteróides sexuais no tratamento da sarcopenia?

Tendo por base sua fisiopatologia, é razoável acreditar que a suplementação hormonal seja uma boa opção para prevenir a sarcopenia. Atualmente, a maior promessa parece ser a reposição de testosterona, particularmente em homens com função das gônadas reduzidas, uma vez que a reposição androgênica é efetiva para ↑ a massa muscular e, provavelmente, também a força muscular. No entanto, a segurança do uso dessa abordagem em longo prazo ainda não está completamente bem definida. As reações adversas mais relatadas são: morte súbita, ↑ do hematócrito (exame de sangue que avalia o % de glóbulos vermelhos do sangue), retenção hídrica, ginecomastia, aumento do antígeno prostático específico (PSA), hipertrofia prostática e piora do perfil lipídico.

O que podemos falar sobre a reposição de GH em idosos no tratamento da sarcopenia?

A reposição de GH em idosos não ↑ a força muscular nem potencializa os ganhos com o treino de força. Estratégias alternativas para estimular o eixo GH/IGF-1 parecem promissoras, como a administração de hormônio liberador do GH (GHRH) e o complexo IGF-1. O tratamento com GH em longo prazo em idosos pode alterar o perfil glicêmico, bem como ocasionar síndrome do túnel do carpo, artralgias, ginecomastia e edema. O elevado custo do tratamento é a principal limitação para o uso clínico nesta população.

O que podemos falar sobre a prática de atividade física no tratamento da sarcopenia em idosos?



A prática de atividade física (particularmente do treino de força muscular, pois ↑ a massa e força musculares) pode auxiliar na prevenção e no tratamento da sarcopenia. Os potenciais benefícios em longo prazo são menor número de quedas e ↑ da mobilidade e independência.


Referencial:
Tatiana Alves de Araujo Silva, Alberto Frisoli Junior, Marcelo Medeiros Pinheiro, Vera Lúcia Szejnfeld. Sarcopenia Associada ao Envelhecimento: Aspectos Etiológicos e Opções Terapêuticas. Rev Bras Reumatol, v. 46, n.6, p. 391-397, nov/dez, 2006

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