Efeitos da atividade física na densidade mineral óssea e na remodelação do tecido ósseo.
A prática de
atividade física de alto impacto (devido ao aumento do estresse
mecânico nos ossos), ou que exija alta produção de força, pode
ter efeito benéfico na densidade mineral óssea (DMO), devido à
deformação que causa nesse tecido durante sua prática. A
literatura tem avaliado os efeitos do treinamento físico em
marcadores bioquímicos da remodelação óssea, já que a variação
das concentrações dos mesmos pode indicar um estado de formação
ou reabsorção óssea. Além disso, independentemente do nível de
atividade física (atleta, indivíduo fisicamente ativo e
sedentário), a DMO tem relação com os níveis de força muscular
bem como com a composição corporal. A determinação do tipo de
atividade física é ideal para aumentar o pico de massa óssea na
adolescência, ou mesmo mantê-la após a idade adulta, é importante
na prevenção e no possível tratamento da osteoporose.
Adicionalmente, a determinação do melhor estímulo à formação
óssea, pode servir para prevenção de fraturas principalmente em
mulheres na pós-menopausa, que possuem maior incidência de
osteoporose.
Qual a
importância da densidade mineral óssea (DMO) para a saúde óssea
no processo de envelhecimento?
A DMO é o resultado
de um processo dinâmico de formação (secreção de osteoblastos) e
reabsorção (subprodutos de colágeno ósseo) do tecido ósseo
chamado de remodelação óssea. A reabsorção causa a deterioração
do osso enquanto a formação é responsável pela reconstrução e
fortalecimento do tecido deteriorado. Esse processo ocorre ao longo
da vida em ciclos de quatro a seis meses de duração.
A manutenção da DMO
é muito importante para a prevenção da osteoporose, caracterizada
por uma diminuição acentuada da DMO, no qual a matriz e os minerais
ósseos são perdidos devido ao excesso de reabsorção óssea em
relação à formação. Esse processo é normalmente associado ao
avanço da idade e ocorrência da menopausa e leva a uma maior
incidência de fraturas. Embora a perda óssea seja mais intensa nas
mulheres, os homens também apresentam uma diminuição devido à
idade avançada.
Qual
a importância da prática de atividade física na DMO?
Diferentes tipos de
atividade física (modalidades esportivas, treinamento de força e
etc.) têm mostrado resultados na DMO, sendo um importante fator na
sua manutenção. Entretanto, apesar do efeito benéfico, altos
volumes de treinamento físico (no caso de atletas) podem ser
prejudiciais à DMO. Esse prejuízo parece ter estreita relação com
distúrbios na homeostase
hormonal do organismo.
Como
poderia ser avaliado o efeito osteogênico da atividade física?
A maior sobrecarga
decorrente do peso corporal, bem como o treinamento de força, causa
estímulos osteogênicos, pelo aumento do estresse mecânico
localizado nos ossos. A mensuração das concentrações de alguns
marcadores bioquímicos de formação e reabsorção óssea e suas
variações em decorrência do treinamento físico pode ser uma
alternativa para a avaliação do efeito osteogênico da atividade
física. A possível variação dessas concentrações pode indicar
um estado de anabolismo ou catabolismo ósseo.
O
que caracteriza o efeito piezo-elétrico para o aumento da DMO com o
treinamento de força?
A justificativa para
o aumento da DMO com o treinamento de força é o efeito
piezo-elétrico. Isso é sugerido pela presença de sinais
bioquímicos que parecem refletir um campo elétrico, possivelmente
decorrente da sobrecarga aplicada. Essa teoria se aplica a qualquer
deformação ou sobrecarga óssea causada por compressão, tensão,
torção ou cisalhamento desse tecido. Essas ações mecânicas geram
diferenças no potencial elétrico dos ossos, que agem como um campo
elétrico, estimulador da atividade celular, levando à deposição
de minerais nos pontos de estresse. Adicionalmente, o efeito da
atividade física na DMO ocorre em locais que suportam estresse
mecânico e consequentemente que são metabolicamente mais ativas.
Por exemplo, aquelas com maior quantidade de osso trabecular (coluna
lombar) e cortical (fêmur).
São
pontos importantes do efeito osteogênico da atividade física:
Para haver efeito
osteogênico é necessário um alto nível de treinamento (grande
volume e intensidade); o fortalecimento ósseo pelo estresse
repetitivo, que ocorre durante o treinamento físico, pode não ser
suficiente para aumentar a DMO em atletas não competitivos; a maior
DMO observada em atletas competitivos é decorrente do maior nível
de atividade física praticada na adolescência, sugerindo uma DMO
aumentada como consequência do treinamento de longo prazo; a
contração muscular, responsável pela deformação óssea,
necessita ultrapassar um determinado limiar de esforço para
estimular a remodelação óssea.
O
que caracteriza o processo de remodelação óssea induzido por
sobrecarga (esforço físico)?
A deformação
óssea, induzida por sobrecarga, que ocorre nas estruturas envolvidas
pode levar a um ótimo nível de formação e a inibição da
reabsorção óssea que ocorre dentro do ciclo de remodelação
normal. O aumento na DMO deve-se à estimulação da formação óssea
e não pela atenuação da reabsorção que ocorre no osso. Em nível
celular, o processo de remodelação induzido por sobrecarga, é
realizado pela ação dos osteócitos, que atuam como receptores
mecânicos do estresse aplicado, e liberam um fator químico
estimulador da proliferação de osteoblastos no local estressado.
Adicionalmente, a maior atividade dos osteoblastos (responsáveis
pela formação) ou dos osteoclastos (responsáveis pela reabsorção
óssea) pode ser avaliada pelo aumento das concentrações
circulantes ou urinárias de substâncias secretadas por essas
células. Essas substâncias vêm sendo utilizadas como marcadores
bioquímicos da remodelação óssea e suas concentrações têm sido
mensuradas em atletas ou naqueles submetidos a algum treinamento
físico para avaliar um eventual efeito na remodelação óssea. É
preciso destacar que embora a atividade física possa influenciar
positivamente a remodelação óssea, o processo bioquímico
responsável por esse efeito não é totalmente claro e outros
fatores podem mediar os efeitos do treinamento físico na saúde
óssea, entre eles a nutrição, a genética e a homeostase
hormonal.
São
marcadores bioquímicos da formação e reabsorção ósseas:
Formação
(envolvidas na calcificação óssea):
fosfatase alcalina óssea específica e osteocalcina ou proteína
Gla; Reabsorção
(subprodutos da reabsorção do colágeno ósseo):
deoxipiridinolina livre; fosfatase ácida tartarato-resistente
circulante; hidroxiprolina; e telopeptídios das ligações cruzadas
do colágeno tipo I.
- São pontos importantes da relação entre alterações hormonais, metabolismo ósseo e prática de atividade física:
-Os hormônios
sexuais femininos (estrogênio e progesterona) influenciam o
metabolismo ósseo por estimular a atividade dos osteoblastos. Essa
ação é sugerida pela existência de receptores estrogênicos
nessas células. Além disso, o estrogênio inibe algumas citocinas,
responsáveis pela proliferação de osteoclastos;
-Foi observado em
ginastas rítmicas e artísticas que a concentração de progesterona
é altamente relacionada com a DMO;
-O treinamento
predominantemente aeróbio e de alto rendimento pode levar a uma
perda óssea prematura devido aos efeitos na homeostase
dos hormônios sexuais femininos e consequente amenorreia, cujo
quadro clínico é caracterizado por um número diminuído de ciclos
menstruais. Esse efeito é semelhante ao que ocorre em mulheres na
pós-menopausa, em que a baixa concentração de hormônios sexuais
implica em acentuada perda óssea e consequente osteoporose;
-Em mulheres atletas
(que treinam intensamente exercícios predominantemente aeróbios),
uma das causas para a perda óssea é o baixo nível de substrato
para a síntese de estrogênio (ou seja, gordura corporal). A perda
óssea, nesse caso, ocorre devido a um déficit calórico e uma dieta
nutricional adequada poderia evitar os distúrbios hormonais. Ainda,
a baixa produção hormonal, que ocasiona a osteopenia, pode ser
consequência da supressão do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal
decorrente do exercício de alta intensidade, ou seja, em decorrência
de mecanismos centrais e periféricos de inibição hormonal;
-As modalidades de
atividade física influenciam de forma diferenciada a DMO e produção
hormonal. Isto tem relação com o tipo de sobrecarga aplicada nos
ossos. Por exemplo, quanto menor a concentração de estrogênio,
maior deve ser o estímulo mecânico para manter a DMO normal. Nesse
sentido, quando comparadas a mulheres sedentárias, as corredoras de
longa distância amenorréicas (ausência de ciclos menstruais) e
oligoamenorréicas (ciclos menstruais irregulares e infrequentes)
possuem baixa DMO. Por outro lado, isso não foi constatado em
ginastas rítmicas e artísticas oligoamenorréicas, que possuíam
DMO significativamente maior que o grupo inativo fisicamente.
Provavelmente isso tenha ocorrido pelo fato de que a carga aplicada
nas articulações, imposta por alguns exercícios da ginástica, é
muito maior do que a carga imposta durante a corrida.
O que é
importante destacar sobre a terapia de reposição hormonal (TRH) e
utilização de contraceptivos com estrogênio por atletas com
amenorreia?
A TRH e utilização
de contraceptivos podem ser necessárias em atletas com quadro
clínico de amenorreia. Por exemplo, foi observado que a DMO de
corredoras que utilizavam contraceptivos era significativamente maior
do que nas atletas que não os utilizavam. Com relação à TRH, sua
associação com a atividade física demonstrou ser efetiva na
manutenção ou aumento da DMO em mulheres idosas. Contudo, o
risco-benefício da TRH deve ser avaliado, já que sua utilização
pode acarretar prejuízos à saúde.
O que é
importante destacar sobre a relação entre a homeostase
dos hormônios sexuais e DMO em homens?
-Primeiro essa
relação não é muito clara como nas mulheres;
-A ação dos
androgênios na remodelação óssea dos homens é mediada por
receptores específicos para esses hormônios, encontrados nos
osteoblastos;
-Foi observado
efeito benéfico do treinamento físico na DMO de triatletas que
possuíam baixa concentração de hormônios androgênicos;
-Ryan et al. não
acharam associação entre os níveis de testosterona circulante e a
variação de DMO ocorrida após treinamento de força, aplicado em
homens idosos. No entanto, os níveis circulantes de testosterona não
necessariamente refletem a ação desse hormônio em nível celular;
-Outros fatores
podem ser determinantes da massa óssea em homens, principalmente
quando as concentrações hormonais se encontram dentro de uma
variação fisiológica normal.
Qual é o efeito
osteogênico da prática de diferentes modalidades esportivas na
DMO?
A prática de
exercícios que utilizam como sobrecarga o peso corporal ou envolvem
grande produção de força muscular aumentam a DMO. Foi observado
que atletas praticantes de esportes que envolvem a produção de
altos níveis de força muscular possuem maior DMO do que a população
em geral. Algumas modalidades esportivas possuem um efeito
estimulador da remodelação do tecido ósseo quando o mesmo é
submetido cronicamente a um esforço que excede a sobrecarga
habitual. Esse efeito está relacionado com a magnitude e ao local
específico em que a sobrecarga é imposta. Isso permite estimular a
prática de modalidades esportivas, com maior sobrecarga ocasionada
pelo peso corporal ou com maior utilização de força muscular, como
possíveis ferramentas para a prevenção da perda óssea e
osteoporose.
O que é
importante destacar sobre o impacto do treinamento de força na DMO?
-É apontado como
uma das modalidades de atividade física que resultam em maior
estímulo da osteogênese. No entanto, a magnitude da resposta óssea
depende do tipo de exercício, da intensidade, da extensão do
programa e do nível de condicionamento físico inicial (o que
impacta o status
ósseo) do sujeito;
-Indivíduos com
altos níveis de DMO (atletas) não respondem facilmente ao estímulo
osteogênico do treinamento de força. Por outro lado, indivíduos
não treinados possuem maior janela de ganho de força, o que
possibilita a aplicação de sobrecargas crescentes e
consequentemente aumento da DMO;
-A resposta óssea
ao treinamento de força ocorre em jovens e idosos, tanto do sexo
masculino como do feminino;
-O mecanismo para o
aumento da DMO através do treinamento de força passa pela magnitude
da deformação óssea. Maiores intensidades relativas à carga
máxima (1RM) estão associadas a maiores estímulos e resposta mais
rápida para o aumento na DMO;
-Comparado a outras
modalidades esportivas (corrida), o treinamento de força fornece
maior estímulo ao aumento da massa óssea em locais anatômicos onde
ambos os tipos de atividade física resultam em estresse mecânico
(colo do fêmur). Ainda, a sobrecarga imposta pela corrida é
decorrente do peso corporal e, sendo assim, é constante ao longo do
tempo. Embora haja maior número de estímulos durante a corrida, a
magnitude do estímulo é mais importante que a frequência do mesmo;
-O treinamento de
força excêntrico, caracterizado por maior produção de força que
o concêntrico, promove maior estímulo osteogênico. Foi observado
que o treinamento de força excêntrico comparado ao concêntrico,
com a mesma carga relativa, demonstrou ser mais efetivo no aumento da
DMO.
O que é
importante destacar sobre a atividade física e os marcadores
bioquímicos do metabolismo ósseo?
-Alguns
pesquisadores têm utilizado a análise de alguns marcadores do
metabolismo ósseo, para avaliar de forma dinâmica, os efeitos da
atividade física na remodelação óssea, buscando relação entre
as mudanças encontradas na DMO (avaliadas pontualmente através do
DEXA) e a variação nas concentrações sanguíneas ou urinárias
dos marcadores;
-Foi observada
relação entre as mudanças nas concentrações dos marcadores do
metabolismo ósseo e nos resultado do DEXA, havendo relação entre a
intensidade de treinamento e a magnitude de aumento nos marcadores de
formação óssea. Ou seja, observou-se maior resposta dos marcadores
de formação óssea a maiores intensidades de treinamento;
-No entanto, são
necessários mais estudos, pois ainda há muita discrepância de
resultados quanto ao processo de remodelação óssea. Isso tem
relação com as variações diárias de alguns marcadores;
discrepâncias em sua utilização; diferentes respostas dos
marcadores a metodologias semelhantes; e que a resposta dos
marcadores representa apenas uma média da remodelação óssea
corporal total e não dos locais que sofreram maior sobrecarga
durante a prática de atividade física.
O que é
importante destacar sobre a associação entre a força muscular,
composição corporal e DMO?
-Independentemente
do tipo de atividade física realizada, existe relação entre o
desenvolvimento da força, a composição corporal e a DMO;
-A magnitude da
contração muscular tem impacto em locais ósseos relacionados
anatomicamente com os músculos que realizam contração muscular;
-A massa corporal é
um importante fator na determinação da DMO devido às forças de
compressão aplicadas nos ossos que sustentam a sobrecarga corporal;
-O percentual de
massa gorda; pela gordura ser substrato para conversão de andrógenos
em estrógenos; está relacionada com a DMO por fatores hormonais
(devido à sua importância na regulação dos hormônios sexuais) e
mecânicos;
-A massa magra está
relacionada à DMO porque, embora músculo e osso sejam
estruturalmente independentes, ambos respondem aos mesmos estímulos
de atrofia e hipertrofia. Nesse sentido, o nível de força muscular
produzido tem relação direta com a DMO;
-As associações
entre DMO e composição corporal e/ou força muscular sofrem
influência do gênero, do nível de treinamento e da homeostase
hormonal;
-Altos níveis de
DMO geralmente são associados com altos níveis de massa magra e/ou
força muscular, o que sugere que um programa de treinamento físico
com o objetivo de aumentar a massa magra e a força muscular tem
efeito benéfico na DMO.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
-Fatores como
genética, homeostase
hormonal e alimentação são determinantes da DMO. No entanto, o
nível de atividade física tem também importante influência.
Apesar do mecanismo fisiológico não ser inteiramente claro, a ação
osteogênica da atividade física parece ser mediada via efeito
piezo-elétrico;
-O grau de adaptação
óssea alcançado via a prática de atividade física parece ser
dependente da sobrecarga e específico dos locais submetidos ao maior
estresse mecânico;
-O treinamento de
força de alta intensidade é o que promove maior ganho de DMO;
-A mensuração da
concentração de marcadores bioquímicos é importante na avaliação
de métodos de treinamento físico que visem o aumento da DMO, tendo
em vista que a maior concentração dos marcadores de formação
óssea pode sugerir uma efetividade de treino não traduzida por
valores encontrados com a avaliação por DEXA (g/cm2);
-Independentemente
da atividade física praticada, indivíduos com maior força muscular
e massa magra, possuem maior DMO, embora a gordura corporal também
seja relacionada com a massa óssea, devido a fatores hormonais;
-A determinação do
tipo de atividade física ideal para aumentar o pico de massa óssea
na adolescência, ou mesmo mantê-la após a idade adulta, é muito
importante para a prevenção e o tratamento da osteoporose, cuja
incidência ocorre principalmente em mulheres pós-menopausa. Além
disso, as associações da DMO com a força muscular e a composição
corporal sugerem que a prescrição de um treinamento que vise
melhorar esses parâmetros pode ter um efeito benéfico na DMO.
FONTE: Eduardo
Lusa Cadore, Michel Arias Brentano, Luiz Fernando Martins Kruel.
Efeitos
da atividade física na densidade mineral óssea e na remodelação
do tecido ósseo.
Rev Bras Med Esporte, Vol. 11, Nº 6 – Nov/Dez, 2005.
Integrantes
do grupo: DECIO
EUZEBIO GONCALVES SILVA, KATHISUELLEN DOS REIS ASSIS, PATRICIA DOS
SANTOS ULIANA, JOCILENE FARIAS PEREIRA (02/06/2015).
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